18. Rép lido, por Lino Centelha
Passei uma noite inteira
Olhando fixo a Ribeira
Enrolado numa esteira
Mirrado pela tremideira
A procurar a maneira
Zoológica ou certeira
Irada na pasmaceira
Natural da Ericeira
Horizontal à maneira
Ou vertical como queira.
Negociando a certeza
Um paradoxo na mesa
Marcado pela beleza
A chama já muito acesa.
Avanço contra o encanto
Vitimado pelo espanto
Entalado pelo pranto
Naufragado por enquanto
Isto passa, no entanto
Douro a pílula portanto
Ao pensar que sou um santo.
Deu tudo isto para o torto
E eu quase fiquei morto
Cimbalino concentrado
E para sempre acordado
Não tivesse eu almoçado
Tripas à moda do Porto
E um gim tonificado.
Nunca a paixão pelo belo
Usada com tal desvelo
Montar o barco rabelo
Assim como a pôr um selo.
Candidato à solidão
Infiel por convicção
Decidi já sem razão
Adoptar a escravidão
Daquela chamada São
E ficar como seu cão.
De nada valeu o drama
Ela pisou minha chama.
Gaia está entristecida
E hei fel na ponte minha
Nesta São que está esquecida
Tento encontrar a saída
E comer a francesinha.
<< Home