novembro 08, 2005

42. Não me quero prisioneira, por Palavras em Linha

René Magrite

Soltei do corpo todas as palavras e fiquei despida.
Tenho frio.
Não me aquece esse amor feito de camadas de óleo sobre a madeira
Antes perdida.
Doem-me as mãos de tanto segurar em mim.
Aprisionaste-me na moldura mas estou partida.
Mesmo que traces contornos em contra-luz
E o teu engenho me cole ao espelho,
Já não tens tempo
Fiquei sem vida.Não me contemples.
Já não me tens
Para que te sirvo desconstruída? Ou prisioneira?
Baixei os olhos ao teu desejo,
Deixei de ser para te agradar
Mas não sabia dessa magia que tu usaste
Para me pintar desta maneira.
Fechei os olhos, não quero ver-te,
Nem quero a sombra que desenhaste não sendo eu
Cobre-me o corpo, não me desdobres,
Vê se me encobres que tenho frio.
Para quê esconder-me, disseste tu?
Não me importava de me mostrar
Mas este estado de desvendada, quase esventrada, retrato nu,
É expor a alma, aprisioná-la.
Não peças mais para me rir
Estou cansada de me segurar,
quero ir dormir.
Dei-te o meu corpo como quem dá tudo o que tem e aqui fiquei.
Sou o teu sonho e o teu desejo
A tua obra já acabada..
Solta-me agora que tenho frio
Quero ir dormir.
Já estou cansada.

Palavras em Linha