novembro 13, 2005

72. Explicação, por Quaise

Keith Nicolson


Há gestos que de tanto usados se tornam nossos.
Como o ginasta que elegantemente consegue
Um movimento que parecia impossível.


É assim que se marca o corpo.
No degrau gasto por milhares de passos
Fica para sempre o que chamamos memória.


Força bruta dos sentidos a deslizar.
Casos e acasos que vão empurrando o vento
De modo a levantar, num passe de mágica
O rosto, a fé, o murmúrio e o pensamento
E a vontade fortuita dos intervalos.


Gostava de ser capaz de, por palavras minhas,
Dizer que incêndios, terramotos ou ciclones
Se abatem sobre as sombras inconsistentes da vontade
Quando um gesto liso, frágil e displicente,
Ocasional, voluntário, sinuoso ou digital,
Recai violento e intruso sobre o olhar.


Gostaria de explicar por palavras minhas
O que acontece ao corpo
Quando um gesto solto o surpreende
Na curva irregular dos sentidos.


Mas há no gesto, na indiferença e nas palavras
Uma tal presença de ambiguidade
Que torna para sempre impossível
Dizer o nome que cada desejo tem.


Quaise