março 29, 2006

3. (sem título), de Pirata Vermelho

“The horror...” “The horror...”
O cheiro de terra molhada e escura, envolta em neblina quente, acentuava a expressão divina. O sangue borbulhava-lhe na garganta, aberta à frente, marcando o tom grave e arrastado do que dizia e matando-o devagar, num misto de sufoco e pasmo.
De repente pôs-se de pé e fazendo cessar o engasgo que lhe misturava as palavras, interrompeu o que restava de Conrad, olhou em transparência o soldado-carrasco e exclamou ‘You are a hero, boy!’; apanhou-o pela garganta seca por dentro, num aperto metálico, prolongado mas sem estrebucho e estrangulou-o sumariamente sem olhar a alteração; só com uma mão, na inércia que tolhera o iniciado semi-deus, filho de plebeu, apenas semi-vivo num estupor insuportável.
Fora, ali dentro, a profundidade da floresta densa acolhia o tom cavo da elegia de um povo eterno dedicado à matança.
“Mistah Kurtz, he dead”, ouviu alguem dizer, sentado na pedra da porta de uma casa mais antiga do que tudo o que tinha sido seu, cuja memória só agora começava a fazer História. Então prosseguiu, certo e determinado,
"I took my place opposite the manager, who lifted his eyes to give me a questioning glance, which I successfully ignored.”


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Um ‘acto de cinema’, feito de uma sequência de "Apocalypse Now", de Francis Coppola.
Citações de "Heart of Darkness", de Joseph Conrad.
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-Pirata-Vermelho-