outubro 08, 2005

5. (sem título), por J.P.

Embebedei-me de aromas ao tocar a pedra áspera. Arcada bruta nascida do sonho de mostrar poderio. Palpei de novo as raízes da infância, quando as azedas eram mais azedas, e o coração menos brando.
Que carranca séria, disseram-me. - Solta o riso que as flores agradecem!
Muda encaracolei-me no axadrezado hipnótico. O eco dos passos uma cortina de fumo.
Fiz girar só mais uma vez o globo ajeitado sobre a pianola. Sempre me agradou aquela rotação dessincronizada de chiar murmurante.
-Preciso de ar, com licença. A pressão no peito estalava-me nas têmporas. Saí sonâmbula para o jardim, que outrora me parecera maior.
– Tem cuidado que o candeeiro de ferro ainda continua pisco. Disse que sim com a cabeça, e avancei.
O laço do passado jamais seria recuperado.
Acocorada no lajedo, explodi em lágrimas, choro calado de quem se lembra vezes demais, solto agora em arquejos de raiva aliviada…

J.P., do blog Faz de Conta