novembro 06, 2005

23. Godot, de Hipatia

Tine Drephal

Todos nascemos loucos. Alguns de nós continuam a sê-lo.

Samuel Beckett – À Espera de Godot


Todos os dias espero que a inspiração não me falte, regresse de mansinho para me ajudar. Nestes dias em que o absurdo se instala, corrosivo, e não sei como escapar-lhe.

Todos os dias! Talvez falando de tudo e de nada, esperando. Esperando que as palavras se alinhem, ao final do dia. Esperando que a loucura se esconda, vagueie para longe. Esperando, esperando, esperando...

Todos os dias espero a inspiração que me permita baixar ao ninho, baixar à minha condição, escorraçar o patético e o desesperado, vagabunda de mim.

Todos os dias espero a espera, vagando no tudo, vagando no nada, procurando um caminho nas existências banais, sem sentido, quando a voz me foge ainda mais um dia.

Todos os dias espero o meu Godot, um vazio que não chega se o amordaço em mil palavras, esconjuro em coisa nenhuma. Uma qualquer banalidade que se faz esperança, quando ainda há mais um dia em que a espera é a rota possível para longe do nada, para perto da inspiração, para mais perto ainda de um renascimento possível.

Na invenção das palavras, construo a espera. E fico esperando, esperando, esperando. Meu Godot, minha inspiração, meu caminho.

08-01-2005


Blog: Voz em Fuga