novembro 13, 2005

76. Vida, por Japinho


David Hurn (Cardiff)





Sai fumo da malvada
negro como os meus olhos, carvão.
Sempre a vi da janela do meu quarto
grande, feia, assustadora.
Nasci como ela, cinzento, assim
triste e vazio como os dias que virão.
Todos os dias fujo dela, como de uma prisão
ouço-me palavras que sempre ouvi
somos escravos sem grilhetas
todos os dias fujo dela, como de uma prisão.
E o que seria alegria
uma brincadeira de crianças, um jogo de bola
é pouco.
É só tempo que falta
que vai passar depressa, nada mais.
Amanhã terão cartão de sindicato
dirão as palavras que sempre ouviram
somos escravos sem grilhetas
E irão fugir dela como de uma prisão.


Japinho
Blog: RMP - Revoluções por minuto