Não, muito obrigado!
Não imaginam como foi difícil para o júri permanente deste Concurso hierarquizar a originalidade e o talento literários daqueles que se foram cruzando com o Escritor Famoso, desde que este iniciou o seu passeio pela blogosfera. Ficámos com vontade de também responder com um "não, muito obrigado!".
Como definido no Regulamento, numa primeira fase, todos os visitantes desta casa (com ou sem blog) seriam chamados para nomear o seu texto preferido. Essa consulta foi realizada e traduziu-se nos seguintes resultados:
Textos mais Votados
n° 5 - Maria Heli, O escritor famoso (14)
n° 8 - Rosarinho, A visita do escritor famoso (9)
n° 9 - Ivar Corceiro, Helena (5)
n°16 - mfc, O escritor famoso passou por aqui (3)
Paralelamente, cada membro do júri permanente do Concurso (Batatas, O'Sanji, Sónia Sequeira e MRF) avaliou individualmente os 18 textos, atribuindo-lhes uma pontuação de 0 a 10. Dessa avaliação resultou o seguinte ranking:
Textos mais pontuados
n° 9, Ivar Corceiro, Helena (36)
n° 7, Rui, O escritor famoso (35)
n° 8, Rosarinho, A visita do escritor famoso (33)
n° 3, George Cassiel, Confissões de um escritor famoso (32)
n° 16, mfc, O escritor famoso passou por aqui (32)
n° 5, Maria Heli, O escritor famoso (31)
A qualidade global dos textos era bastante elevada, de forma que todos os outros textos ficaram com uma pontuação superior a (25). E a subjectividade é um vício humano, às vezes maldito!
Pessoalmente descobri em todos os textos uma frase, uma mensagem, um sense ou non sense, que senti como notas agudas e deliciosas de sensibilidade. Essas "notas" vão aparecer no Divas assim de tempos a tempos para matar saudades destas leituras.
Os dados foram lançados e nas 24 horas que nos foram concedidas para decidirmos sobre um vencedor final, chegámos à conclusão de que... não, muito obrigada! Não vamos nomear um vencedor! Vamos distinguir todos os participantes com menções honrosas!
E não se ouvirá o "the winner is". Preferimos antes "o prémio vai para".
E o prémio vai para...
Maria Heli
Reagindo ao mote inicial imaginou um diálogo inteligente e pertinente entre (dois) escritores. O público leu e gostou. A reacção "massiva" dos seus fãs revela também que ela já é uma escritora com carisma.
e para...
Ivar Corceiro
Reflectindo sobre a subjectividade da fama, inventou um escritor e uma amada. E ela é todas as pessoas do mundo. A prosa muito poética de um escritor que vocês vão conhecer melhor, mais dia menos dia...
O Navio de Espelhos terá muito prazer em oferecer a estes dois ilustres premiados um livro à sua escolha.
E agora vamos reler os dois textos:
Ela abordou o escritor famoso, segura nos gestos, na postura, na voz.
- Vim aqui com o propósito de lhe pedir o favor de ler este original de que sou autora. A sua opinião é importante. Talvez decisiva.
O escritor famoso estendeu a mão para segurar o original, enquanto lhe perguntou pelo nome.
- Maria Helena.
- Pois até o leio, Maria Helena, se me disser porque escreve. Sorriu.
- Bem…porque gosto de escrever!- Não é suficiente. Hoje, toda a gente gosta de escrever! Quase aposto que tem um blog…Tem?
- Não. Não tenho, mas escrevo num.
- É a mesma coisa. Pertence ao grupo banal e eclético daqueles para quem não é suficiente dizer. Pois claro que se acabaram as tertúlias de café. Hoje já ninguém conversa, a oralidade está a perder-se. Toda a gente quer fixar as palavras no papel ou no ecrã. No silêncio de um suporte qualquer. A honra da palavra extingue-se. A palavra dita está rouca. A vulgaridade escreve-se. Deve achar que o que tem para dizer é tão importante que tem de o fixar, gravar em caracteres, se possível impressos. Já ninguém conta. Já ninguém diz. Ambiciona escrever um livro…
- Lê ou não lê o original?
- Dá-lhe prazer escrever?
- Sim, claro!
- Nada é claro para quem escreve, minha senhora! Provavelmente tem aqui um depósito de coisas claras que vão ofuscar o leitor....
-E o senhor começou ou não a escrever livros?
-Tenho, como sabe, dezenas e dezenas de livros publicados, tiragens fenomenais. Faço sessões de autógrafos. Pedem-me para ler originais. No entanto, não tenho um blog, nem escrevo para nenhum…
- Dê cá o original! Nunca imaginei que…
- Não! Desculpe… Agora vou ler o seu original. Pediu-me que o lesse. Ou acha que numa conversa me dizia tudo o que tem aqui escrito?
Esta é a história dum violino que nunca o chegou a ser. É tocado, às vezes, durante horas a fio pelas mãos dum homem que bebe demais. Desculpem, que escreve demais. No balcão do bar onde, no fundo de copos de vinho morno, vai asfixiando as palavras dos que lhe falam demais, decidiu um dia só escrever. Demais também, para que só o ouçam voluntariamente.
Lá fora os eléctricos coxeiam pelas tortuosas artérias da cidade, como bichos da seda, pensa ele. Pensa-o desde que deixou Helena presa a uma varanda pequena, mandando-lhe beijos que voavam como borboletas ao vento até baterem nos vidros, e que com o tempo se transformaram num adeus.
Desde então que as noites estão sempre tão vazias, e as tardes também. E as manhãs também, mas num sono que vai prolongando mais suavemente a vida. Vai enchendo tudo com música, tocada pela embriaguez dum violino inexistente. Há uns dias parou. Pintou, escondido pela neblina noctívaga, uma frase em frente à varanda de Helena: “Os eléctricos são bichos da seda, cujas borboletas morrem ao desovar”. Ela já leu. Ela é todas as pessoas do mundo. Todas as pessoas do mundo já leram. Ele é famoso.
P.S.: Maria Heli e Ivar Corceiro, quem é esta Helena que vocês parecem conhecer tão bem?
Como definido no Regulamento, numa primeira fase, todos os visitantes desta casa (com ou sem blog) seriam chamados para nomear o seu texto preferido. Essa consulta foi realizada e traduziu-se nos seguintes resultados:
Textos mais Votados
n° 5 - Maria Heli, O escritor famoso (14)
n° 8 - Rosarinho, A visita do escritor famoso (9)
n° 9 - Ivar Corceiro, Helena (5)
n°16 - mfc, O escritor famoso passou por aqui (3)
Paralelamente, cada membro do júri permanente do Concurso (Batatas, O'Sanji, Sónia Sequeira e MRF) avaliou individualmente os 18 textos, atribuindo-lhes uma pontuação de 0 a 10. Dessa avaliação resultou o seguinte ranking:
Textos mais pontuados
n° 9, Ivar Corceiro, Helena (36)
n° 7, Rui, O escritor famoso (35)
n° 8, Rosarinho, A visita do escritor famoso (33)
n° 3, George Cassiel, Confissões de um escritor famoso (32)
n° 16, mfc, O escritor famoso passou por aqui (32)
n° 5, Maria Heli, O escritor famoso (31)
A qualidade global dos textos era bastante elevada, de forma que todos os outros textos ficaram com uma pontuação superior a (25). E a subjectividade é um vício humano, às vezes maldito!
Pessoalmente descobri em todos os textos uma frase, uma mensagem, um sense ou non sense, que senti como notas agudas e deliciosas de sensibilidade. Essas "notas" vão aparecer no Divas assim de tempos a tempos para matar saudades destas leituras.
Os dados foram lançados e nas 24 horas que nos foram concedidas para decidirmos sobre um vencedor final, chegámos à conclusão de que... não, muito obrigada! Não vamos nomear um vencedor! Vamos distinguir todos os participantes com menções honrosas!
E não se ouvirá o "the winner is". Preferimos antes "o prémio vai para".
E o prémio vai para...
Maria Heli
Reagindo ao mote inicial imaginou um diálogo inteligente e pertinente entre (dois) escritores. O público leu e gostou. A reacção "massiva" dos seus fãs revela também que ela já é uma escritora com carisma.
e para...
Ivar Corceiro
Reflectindo sobre a subjectividade da fama, inventou um escritor e uma amada. E ela é todas as pessoas do mundo. A prosa muito poética de um escritor que vocês vão conhecer melhor, mais dia menos dia...
O Navio de Espelhos terá muito prazer em oferecer a estes dois ilustres premiados um livro à sua escolha.
E agora vamos reler os dois textos:
O escritor famoso, de Maria Heli
Ela abordou o escritor famoso, segura nos gestos, na postura, na voz.
- Vim aqui com o propósito de lhe pedir o favor de ler este original de que sou autora. A sua opinião é importante. Talvez decisiva.
O escritor famoso estendeu a mão para segurar o original, enquanto lhe perguntou pelo nome.
- Maria Helena.
- Pois até o leio, Maria Helena, se me disser porque escreve. Sorriu.
- Bem…porque gosto de escrever!- Não é suficiente. Hoje, toda a gente gosta de escrever! Quase aposto que tem um blog…Tem?
- Não. Não tenho, mas escrevo num.
- É a mesma coisa. Pertence ao grupo banal e eclético daqueles para quem não é suficiente dizer. Pois claro que se acabaram as tertúlias de café. Hoje já ninguém conversa, a oralidade está a perder-se. Toda a gente quer fixar as palavras no papel ou no ecrã. No silêncio de um suporte qualquer. A honra da palavra extingue-se. A palavra dita está rouca. A vulgaridade escreve-se. Deve achar que o que tem para dizer é tão importante que tem de o fixar, gravar em caracteres, se possível impressos. Já ninguém conta. Já ninguém diz. Ambiciona escrever um livro…
- Lê ou não lê o original?
- Dá-lhe prazer escrever?
- Sim, claro!
- Nada é claro para quem escreve, minha senhora! Provavelmente tem aqui um depósito de coisas claras que vão ofuscar o leitor....
-E o senhor começou ou não a escrever livros?
-Tenho, como sabe, dezenas e dezenas de livros publicados, tiragens fenomenais. Faço sessões de autógrafos. Pedem-me para ler originais. No entanto, não tenho um blog, nem escrevo para nenhum…
- Dê cá o original! Nunca imaginei que…
- Não! Desculpe… Agora vou ler o seu original. Pediu-me que o lesse. Ou acha que numa conversa me dizia tudo o que tem aqui escrito?
Helena, de Ivar Corceiro
Esta é a história dum violino que nunca o chegou a ser. É tocado, às vezes, durante horas a fio pelas mãos dum homem que bebe demais. Desculpem, que escreve demais. No balcão do bar onde, no fundo de copos de vinho morno, vai asfixiando as palavras dos que lhe falam demais, decidiu um dia só escrever. Demais também, para que só o ouçam voluntariamente.
Lá fora os eléctricos coxeiam pelas tortuosas artérias da cidade, como bichos da seda, pensa ele. Pensa-o desde que deixou Helena presa a uma varanda pequena, mandando-lhe beijos que voavam como borboletas ao vento até baterem nos vidros, e que com o tempo se transformaram num adeus.
Desde então que as noites estão sempre tão vazias, e as tardes também. E as manhãs também, mas num sono que vai prolongando mais suavemente a vida. Vai enchendo tudo com música, tocada pela embriaguez dum violino inexistente. Há uns dias parou. Pintou, escondido pela neblina noctívaga, uma frase em frente à varanda de Helena: “Os eléctricos são bichos da seda, cujas borboletas morrem ao desovar”. Ela já leu. Ela é todas as pessoas do mundo. Todas as pessoas do mundo já leram. Ele é famoso.
P.S.: Maria Heli e Ivar Corceiro, quem é esta Helena que vocês parecem conhecer tão bem?
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