novembro 07, 2005

33. Silêncio maior, por Seila

Rui Guerra (the night i was going to die)


Mãe, mãezinha
Minha mãe...
Viste-me nascer.
Mãe.
Não me viste crescer.
Julgaste, mãe.
(Julgam todas as mães?)

Aqui estou.
Grito às paredes do quarto:
Mãe, mãezinha!
(A vizinha de baixo vozeia.
Vou calar-me.
Vou tentar chorar sem ruído.
Soluçar no edredão
Morder o travesseiro.)

Ele não me quer mais, mãe.
E elas adoram o meu corpo.
Adoram-me, mãe.
Ele não me quer, mãe
E eu...
Não te posso dizer, mãe
Não te sei dizer...
Irias perceber?
Queria tanto, mãe.
Queria tanto...

Recolhi-me aqui.
Desfiz a cama.
Acho que dormi.
(O remédio era doce, mãe
A boca sabe-me a morango
A cabeça está envolta em bruma
Parece bruma, mãe. Parece...)

Tu viste-me nascer, mãe.
E eu não sei mais crescer.
Perdoa, mãe.
Perdoa.





Seila do Repensando