novembro 08, 2005

45. O Suicídio de um Anjo, por VCRC

Carstanova (mummy)

Conforto-me nas palavras que escrevo e me deixam vazio..
Cada precipício que vejo é mais um estigma que supostamente caiu..
Estou cansado da linha direita que cada rumo me aperta,
Cada corda que me prende a um ponto e não me liberta.

Aproximo as mãos do inexistente rosto...
Será mais um vazio lá em baixo...mais um residente desgosto?
As veias cerradas na testa não me deixam mentir...
Toda a insanidade que me impede de querer ficar e não cair..
Olho para baixo e o que vejo?
Talvez a astúcia do fim de um beijo? Talvez um ciclo acabado?..
Pedras, escuridão, uma passo em falso e mando no que está destinado!

O que custa? O que fica?.. será que este céu é também teu?
Porque te deixei aí em baixo, onde te olham como um mero troféu?
Quero deixar de ser anjo... tudo o que aqui tem asas não tem significado..
Pertenço a essa vida e a tudo o que cedo me foi negado...

Este precipício onde estou leva-me até esse mundo,
Um sorriso possível, um mergulho profundo..

Nesta realidade cruel do que nem visto é quando se olha à vista..
Neste mundo a que chamam céu e que nos esquece e nos despista..
Não quero ser isto!!...onde andam os sentidos que me fazem implorar?
O sentir, o ouvir...o cheiro que não existe ou o valor amargo de um simples paladar?
A palavra recordação não conta para quem nem esquecido pode ficar!
Não permitas que a palavra saudade signifique o inexplicável do verbo acabar!
As veias cerradas na testa não me deixam mentir...
Toda a insanidade que me impede de querer ficar e não cair..

Vou.... espera-me! Seremos nessa paralela um só ser..
Estou cansado de ser anjo e nem o direito à vida posso ter!

Quero ser gente, poder tocar..
O eterno mortal que um dia e no tempo certo acaba por acabar..
Não digo um adeus, nem a esse quero ter direito, quero apenas ir.
Quebro as barreiras e encaro a vida..
Um anjo também se mata por não ter motivos para sorrir...

(dedicado a ti Fernando que, lá onde me vês também me esperas.)

VCRC