O Escritor Famoso
MÁQUINA DE PASSAR TEMPO
Não, você não leu direito o título. Ele não queria inventar a Máquina do Tempo. A perseguida por tantos e tantos cientistas sérios ou malucos. A-quela de ir e vir no tempo. De visitar a infância ou a velhice. O que ele que-ria mesmo era inventar a Máquina de Passar Tempo. Só isso. Por onde co-meçar? Que apetrechos usar? Melhor pensar. Sentou-se na melhor poltrona da casa e lá ficou. Zen. Quase nem. Sem porém. Cinco horas mais tarde, ainda estava pensando. Precisaria energia elétrica? Pneus de bicicleta, ace-lerador de partículas, cartas de baralho? Indeciso, pensava. Logo mais a-palpou a poltrona, o tecido macio, e resolveu começar por ela. Adaptou um volante de automóvel, um dial de rádio, motor de liquidificador. Daí em diante, foi fácil. Uma cúpula de abajur, dois garfos e uma faca, uma pá de ventilador, roldanas de persiana. Ficou dois dias indeciso entre uma ou cin-co cordas de violão. Decidiu por cinco. Pelos dez dias seguintes visitou fer-ros-velhos e catou tudo que parecia bom de usar. A família estranhou, os vizinhos balançaram a cabeça. Noite e dia ele pregava, serrava, soldava. Lógico que correu a notícia de que ele endoidara. Pirou. Está dando milho para bicicleta. Jogando queda de braço com toca-discos. Até que, num belo dia de chuva, ele abriu a casa para os curiosos.
— Vejam! Vejam! Inventei a Máquina de Passar Tempo!
Risos, muxoxos, bocas franzidas.
— Não acreditam, né? Pois, olhem: comecei a fabricá-la no dia 29 de novembro de 1993. O calendário mostra que hoje é 23 de novembro de 1994 e eu nem senti o tempo passar. Ele fez passar um ano inteiro! E o me-lhor vem agora: ela nem está pronta ainda! Pelos meus cálculos e estudos, acho que preciso de mais uns dez ou doze anos. Isso se eu achar todas as peças. Agora, pronta, pronta, funcionando sem nenhum barulhinho, leva ainda uns trinta anos. Aí, posso requerer patente. E revender. Mas isso, isso se eu não descobrir um jeito de modernizá-la, colocando peças tecnologi-camente mais avançadas, ecologicamente corretas. Bom, ao vão mais uns cinqüenta anos. Acreditam? Não? Esperam pra ver. Esperem pra ver...
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