outubro 10, 2005

19. Um tempo alegremente incerto, por Carlos

Podia estar à espera de um barco que me levasse, a alma animada pelas coisas que se não conhecem e que nalgumas partidas se revelam intensas e felizes, antes de tudo ou alguma coisa se passar.

Poderia olhar em volta, as paredes e as pessoas, e ficar com pena de as deixar por algum tempo (um tempo alegremente incerto), olhar para as minhas coisas e pensar que vão ficar sozinhas por algum tempo (um tempo alegremente incerto).

Poderia descer até ao jardim que fica a bordejar o rio e pensar que haveria momentos, lá onde quer que estivesse, em que seria impossível apanhar pequenos pedaços de madeira e brincar com os cães. E teria essa nostalgia, que agora anteciparia, uma leve impressão no estômago, vacilando por um breve momento.

Poderia não dormir já três dias antes com a ansiedade, antecipando odores, paisagens e outros seres.

Mas não vou a lado algum, o caminho e a porta voltarão a ser os mesmos, antes ainda que seja visitado por um tempo alegremente incerto.

Carlos do Alameda dos Oceanos