outubro 10, 2005

12. O Tempo, por Rui Gonçalves

Mais um dia! Cheguei aqui há algum tempo e desde aí que tenho esperado que o tempo passe. Porque "o tempo faz com que as coisas mudem", pensei eu nessa altura. Mas o passar do tempo apenas nos faz ficar com menos tempo. Tempo esse, que pretendemos que seja para mudar aquilo que não mudámos a seu tempo.
A verdade é que nunca acreditei na história do D. Sebastião, mas como todos aqui, acredito que haverá um tempo melhor que este. Um tempo em que terei tempo para fazer aquilo a que gosto de dedicar o meu tempo.
Para eu próprio ser fruto do meu tempo e quem sabe até ter algum tempo livre.
Mas o tempo não mudou nada. Se calhar "ainda não passou o tempo necessário", penso eu. "É preciso dar
tempo ao tempo". A verdade é que o tempo foi passando e apenas foi me dando uma precessão de lugares comuns.
O tempo é apenas tempo, porque como me diziam em miúdo, naquela ladainha, "o tempo perguntou ao tempo
quanto tempo o tempo tem. O tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem".
Ou seja, não faz mudar nada, para além do próprio tempo. E, já não tenho tempo para isso...
Afinal o que se passou neste tempo todo? Cada um gastou o tempo a fazer aquilo que o seu tempo
permitia. Alguns arranjaram um passatempo, outros olharam pela janela e viram o tempo a passar. Mataram
o tempo! "Porque quem trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro" ou, mesmo, para mudar o que quer que
seja.
Agora, voltou a chuva e o tempo frio. Mas a mudança não veio, como dizia aquela música festivaleira "o
vento mudou e ela não voltou". É do meu tempo? Não! É do tempo dos meus pais.
Eu não gosto do tempo. Não gosto das horas, dos minutos, dos segundos... O tempo apenas nos faz esquecer, não muda nada. Se calhar, não é o tempo, mas sou eu que tenho que mudar. Será que ainda vou a tempo? É que o tempo não volta para trás...
Mas, agora, é tempo de mudar!