13. O Baloiço, de Rui
SMS: Olá, Maria Helena. Tudo bem? Já não nos falávamos há um ror de tempo. Ah, eu sou o Duílio, lembras-te de mim? Tenho andado a contactar todos os meus amigos, novos e antigos, próximos e distantes. Tu ficaste para o fim, não sei bem porquê. Mas como é que tu estás?
SMS: Não sei se tens ainda este nº de telemóvel. Ou então não te lembras mesmo de mim. Na escola, no baloiço cá fora, quando eu me sentia só e tu sorrias-me, recordas-te?
SMS: Se calhar ficaste ofendida por eu te deixar para o fim. Não é o que tu pensas. Eu explico-te: não sei se é a mais exaltante, mas é a memória mais doce aquela em que tu tocas o meu espírito! Trata-se, por isso, do receio de essa memória se estilhaçar: há tanto tempo que não te vejo, podes estar tão diferente, sei lá, mais amarga... bem, nisso eu não acredito, mas a verdade é que fui adiando o momento de chegar a ti.
SMS: Perguntas-te: mas porque raio não pega ele no telefone e fala directamente comigo? Olha, Maria Helena, porque não me sendo fácil dar-me com as pessoas face a face (lembras-te?), desenvolvi uma certa habilidade no escrever (com algum sucesso, como talvez tu saibas e se me permites a imodéstia): é na escrita que estou mais seguro e que consigo pensar e dizer mais exactamente o que sinto.
SMS: Deixa estar, Maria Helena, não fico zangado com o teu silêncio. Foi bom visitar-te, visitar a minha memória contigo. Só me assusta pensar que possas estar doente ou algo pior.
1 mensagem recebida: Olá!...
(- Está a ver, doutor, está a mexer os dedos da mão...
- Tem razão, enfermeira. Vamos ver: eu já não acreditava, mas parece que afinal o temos de volta!)
Rui
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