novembro 19, 2005

IV Edição do Concurso O Escritor Famoso. A decisão final do júri


Como me parece que algumas pessoas não compreenderam, volto a explicar que o vencedor do prémio O Navio de Espelhos foi apurado através de uma eleição em que participavam apenas os concorrentes - que elegeram, entre os 77 poemas a concurso, o seu preferido.

O que venho agora comunicar é a decisão de um júri independente, composto por cinco elementos: George Cassiel, mrf, O'sanji, rjm e Sónia Sequeira (Wilson T do Escrita Solta não pôde participar devido a um problema de natureza técnica).




Hoje à noite, no Encontro do Escritor Famoso, alguns participantes poderão ficar a saber mais pormenores sobre a votação ou sobre as dificuldades dos membros do júri - que pontuaram em muitos casos de forma díspar. Aos restantes participantes peço que aguardem até Domingo.

Parabéns aos vencedores - que são todos os que participaram neste Concurso. Parabéns aos autores dos poemas eleitos, que irão receber um exemplar do primeiro livro publicado pelo Ivar Corceiro.

Desejo a todos um excelente fim de semana!

novembro 18, 2005

IV Edição do Escritor Famoso. Prémio O Navio de Espelhos


Votaram 25 dos ilustres concorrentes. E esta eleição interpares foi renhida. Os resultados são os seguintes:

1°lugar Ivar Corceiro, Palestina, Poema n° 2 (6 pontos*)
Vencedor do prémio O Navio de Espelhos


2° lugar (5 pontos)
Palavras em Linha, Desafio ao Outono, Poema n° 17
A. Bandeira Cardoso, Escondido de Deus..., Poema n° 44
Didas, Poema para a minha avó..., Poema n° 65
Maria, As Reflexões de um louco..., Poema n° 66

3° lugar (3 pontos)
Maria, Berço Novo, Poema n° 30
Palavras em Linha, Não me quero prisioneira, Poema n° 42
A Minha Vizinha, Hoje e Amanhã, Poema n° 49

4° lugar (2 pontos)
Fausta Paixão, Coração de Pedra, Poema n° 24
J.P., Encruzilhada, Poema n° 29
Sisifo, Liberdade, Poema n° 40
VCRC, Prazer, Poema n° 47
Palavras em Linha, Variações no Verão, Poema n° 58
Ivo Jeremias, Mãos que não esquecem, Poema n° 60
mfc, Musgo Mulher, Poema n° 63
Luna, (sem título), Poema n° 71
Japinho, Vida, Poema n° 76

5° lugar (1 ponto)
21 poemas - números 7, 16, 18, 19, 20, 23, 25, 26, 28, 48, 50, 52, 54, 56, 59, 62, 64, 69, 72, 75, 77

Mais de 30 poemas não foram pontuados. Mas destes, alguns constam das preferências do júri... que serão reveladas amanhã!

Entretanto, dada a enorme abstenção do público nas "Eleições Abertas", o júri decidiu que na próxima edição vai mudar de regime. Pois, é mesmo golpe de estádio. Quem passa a decidir é o júri e ponto final!

Relativamente aos actuais resultados que tinham o estatuto de "parecer consultivo" para a escolha dos 3 melhores poemas, não vão poder ser considerados. A administração deixa aqui um enorme agradecimento à minoria que participou e pede-lhes que pensem no caso do referendo ao aborto que acabou por se tornar vinculatico sem o ser e em como já lá vão uns anos sem alteração da legislação, de forma a compreenderem que a decisão seja tomada pela assembleia. A assembleia continua reunida e comunicará os resultados amanhã, dia 19 de Novembro. Este livro irá pertencer a três dos 40 escritores que participaram com 77 poemas nesta IV Edição do Escritor Famoso.

A todos, muitos Parabéns! Ao Ivar, um agradecimento especial pelo poema Palestina.


* votos de Cláudia Sousa Dias, Hipatia, Maria, A. Bandeira Cardoso, Vítor e Didas

novembro 14, 2005

IV Edição do Concurso O Escritor Famoso. Eleições Abertas

É agora! Até ao dia 17 de Novembro (24h00) todos poderão votar nos 3 poemas que, na vossa opinião, merecem ser eleitos como os mais belos ou os mais bem conseguidos. Tenham em consideração a originalidade, a expressividade, o diálogo estabelecido com a imagem, a cadência e ritmo definidos, e enfim, o vosso gosto pessoal, sem dúvida!

Votem nos comentários deste post do Divas & Contrabaixo, sempre!

A concurso estão 77 Poemas que poderão ler aqui. Que o número não vos assuste, lêem-se com prazer, e mais rapidamente do que podem imaginar. Criem uma tabela para vos ajudar nessa tarefa de avaliação. Os Poemas vencedores ganharão este livro.

Em paralelo, entre os participantes no Concurso, vai realizar-se outra eleição. A estes, sugiro que leiam o post seguinte.

Obrigada a todos! E por favor, votem!

IV Edição do Concurso O Escritor Famoso. Atenção concorrentes!

São os próprios participantes no Concurso que vão eleger o vencedor do prémio O Navio de Espelhos. A vocês peço que indiquem 1, 2 ou 3 poemas (que não sejam da vossa autoria) que consideram merecer este prémio especial. Por cada nomeação será atribuido 1 ponto ao poema correspondente. Ganhará obviamente o Poema que mais pontuar.

Os concorrentes (e só eles) devem votar nos comentários deste post do Divas & Contrabaixos.

Recebemos 77 poemas!
Como não sabia como vos agradecer, peguei nesta foto que tirei num fim de tarde há alguns meses, e decidi expô-la aqui como uma oferenda. É que me faz bem olhar para ela. Gosto da luz e dos sons, do prazer e da liberdade que ela me sugere. Boa sorte, amigos desta globosfera!


novembro 13, 2005

77. Entrelaçados, por Jorge Morais

George Portz


Braços teus que me abraçam,
Que me dão guarida,
Meu suplemento de vida…


Braços meus que se entrelaçam,

Em busca do teu calor,
Do teu suave odor…


Corpos nus que se fundem
Peles húmidas de paixão,

Incandescendo o frio chão…


Olhas-me…

Os teus olhos pedem mais!
Pedem-me o céu, o paraíso!
Clamam que no amor nada é demais,
E que tu e eu somos tudo o que é preciso…


Devoras-me…

Beijas cada pedaço da minha pele,
E eu respondo aos teus lábios molhados,
Saboreando o teu corpo, doce de mel,
Consumindo o lume do amor, tu e eu, entrelaçados…



Jorge Morais
Blog: 6 em 1 & Algo Mais

76. Vida, por Japinho


David Hurn (Cardiff)





Sai fumo da malvada
negro como os meus olhos, carvão.
Sempre a vi da janela do meu quarto
grande, feia, assustadora.
Nasci como ela, cinzento, assim
triste e vazio como os dias que virão.
Todos os dias fujo dela, como de uma prisão
ouço-me palavras que sempre ouvi
somos escravos sem grilhetas
todos os dias fujo dela, como de uma prisão.
E o que seria alegria
uma brincadeira de crianças, um jogo de bola
é pouco.
É só tempo que falta
que vai passar depressa, nada mais.
Amanhã terão cartão de sindicato
dirão as palavras que sempre ouviram
somos escravos sem grilhetas
E irão fugir dela como de uma prisão.


Japinho
Blog: RMP - Revoluções por minuto

75. (sem título), por PeloUrso

Pedro Palma (pés de mãos dadas)



Aos teus pés me deitei
Para te dar conforto,
Carinho e alento.
Aos teus pés me ajoelhei,
Perdão supliquei.
De pé, novos horizontes avistei
Na esperança de te ter.
De pés de mãos dadas,
Quero agora contigo,
Partir, sonhar, crescer,
Na esperança fugidia
De um novo amanhecer.


PeloUrso
À Volta da Fogueira

74. Futuro adiado, por Francisco del Mundo

David Hurn (Cardiff)

País de nome, país de Gales,
irmão esquecido da Grã Bretanha,
vive sem bens, sobrevive sem males
uma vida calma, uma vida estranha...

Nesta Cardiff fabril e fumarente,
que a preto e branco é cinzenta,
a cabeçada nunca é golo,
quem não o sabe é tolo...

O resultado está empatado,
O tempo está parado,
O futuro está adiado,
Este é o vosso fado...


Francisco del Mundo

73. Forgotten Child, por Francisco del Mundo

David Hurn (Cardiff)


Forgotten child of old Britain,
Long lost without a captain,
There is no Wallace, there is no Collins,
There is no rise, there are no fallings...

In every Welsh lays a big heart, I know,
Although the present that don't show.
The future can only be good
If my message is understood

"Wales the brave, Wales the old,
Wales the grey, Wales the cold...
In Cardiff, children play, it is true
But, then again, what can they do?"


72. Explicação, por Quaise

Keith Nicolson


Há gestos que de tanto usados se tornam nossos.
Como o ginasta que elegantemente consegue
Um movimento que parecia impossível.


É assim que se marca o corpo.
No degrau gasto por milhares de passos
Fica para sempre o que chamamos memória.


Força bruta dos sentidos a deslizar.
Casos e acasos que vão empurrando o vento
De modo a levantar, num passe de mágica
O rosto, a fé, o murmúrio e o pensamento
E a vontade fortuita dos intervalos.


Gostava de ser capaz de, por palavras minhas,
Dizer que incêndios, terramotos ou ciclones
Se abatem sobre as sombras inconsistentes da vontade
Quando um gesto liso, frágil e displicente,
Ocasional, voluntário, sinuoso ou digital,
Recai violento e intruso sobre o olhar.


Gostaria de explicar por palavras minhas
O que acontece ao corpo
Quando um gesto solto o surpreende
Na curva irregular dos sentidos.


Mas há no gesto, na indiferença e nas palavras
Uma tal presença de ambiguidade
Que torna para sempre impossível
Dizer o nome que cada desejo tem.


Quaise


71. (sem título), por Luna

Keith Nicolson (blinda)


Silenciosamente ouvindo
O chamar dos corpos,
Dispo-me,
Compassadamente sob
O desejo e suplica
Vêm...
Num espaço e num tempo
Criado a dois,
Nua de mim
os sentidos clamam ao toque e á entrega!
Visto-me de ti,
Misturamos-nos num só, a mesma pele
O mesmo sentir;
Ter-nos em nós,
Livres para amar e ser amados,
Ter-nos!

Luna

Blog: Loucura e Nata

novembro 12, 2005

70. Linguagem gestual, por Ikivuku

Keith Nicolson



Hoje tentei que a leitura do jornal não me tirasse o sorriso do rosto.
Foi um esforço de vontade, uma luta contra a culpa.
O que se passa, no dia a dia, é mortal.
Por isso volto, também com esforço, à realidade.

O punho erguido perdeu a razão que outrora sonhou.
Faltou ao gesto sentido e conformidade.
Da forma não se passou a lugar nenhum,
E o gesto perdeu, de toda a vida, a sensação.
Em lugar da conformidade, o conformismo.
Em vez do coração, o umbigo
Em vez do interior, o símbolo, a máscara e a inocência.

Mas nem tudo são imagens.
Há gestos que sobram para me revelar outro mundo.
E aí, nesse lugar, sobra o certo amor à sedução,
Passando sobre o acaso que determina o medo.
Engulo avidamente a última lágrima,
E volto a sorrir como se o mundo fosse todo ali.

Mas não é verdade que sejas o meu narcótico.
O teu movimento lento é a promessa de ser,
Não o odor que faz fugir cobardemente ao mundo.
A haver em algum lado a esperança,
Ela está aí na curva suave da mão,
No movimento harmónico dos tecidos,
Quando numa certa forma de iluminada ilusão,
Os corpos são solicitados para centro do universo.

Decidi não voltar a aceitar
Que o meu lugar no mundo
Fosse determinado por circunstâncias,
Para além de a tempestade me obrigar ao guarda-chuva.


ikivuku

69. Três haikais, por TMara

Pedro Palma (pés de mãos dadas)


(1)Magnólias em Julho

Na densa folhagem
a tímida e branca flor
do olhar se esconde.




(2)Árvores no jardim

Estavam aqui
antes de nós. Por nós são,
ainda, aqui.




(3)Caminho o dia

Caminho o dia.
Penetro no nascente e
deixo-o brilhar.



Blog: Estranhos Dias

68. Uma e um quarto... por André

Rui Gonçalves

As horas passam...
Sentado no banco
Olho os ponteiros do relógio.
Tic. Tac. Tic. Tac.

A noite vai longa...
A cabeça começa a pesar
Embalada pelo ritmo.
Tic. Tac. Tic. Tac.

Desperto de repente!
O som de um velho comboio,
O apito de entrada na estação.
TUIIIIIUUUUU!

Levanto-me de um salto.
Subo para o degrau no último momento.
Ouço o Chefe de Estação gritar:
"Todos a bordo!"

O comboio parte à tabela
Rumo aos sonhos que persigo.
Uma última olhada para os ponteiros
É uma e um quarto da madrugada...


Blog: Devaneios sem sentidos

Ainda outro poema à NOITE, porque a imagem é muito bonita. Mas apenas pelo prazer da partilha..., por Palavras em Linha

Bertrand-de-Girardier



É à noite que os labirintos se fecham,
Que as vozes fazem eco nos nossos medos
E os fantasmas vêm povoar a solidão;
Vestidas de noite as palavras tecem lutos
E ofendem o prazer dos sonhos.
É à noite, ainda,
Que se ouvem os passos das ausências
E a mente sobrevoa o tempo.


Pura teimosia do ser
Negando a si próprio a silhueta das fadas.

É ainda à noite
Que levantamos a capa dos segredos
E traímos os nossos desejos
Guardados no fundo dos sonhos.

Palavras em Linha

67. Outra Noite..., por Finurias

Alta vai a Noite
E no caminho
Já ninguém caminha
Fica a Noite sozinha
Nem o gato da vizinha
Nem o cão da minha tia
Nem os putos em correria
Nem uma pessoa se avista
Já ninguém caminha...
Traços marcados no caminho da Noite
De quem já caminhou de dia
Nem os bancos de jardim
Nem os candeeiros gentis
Nada...lhes faz companhia
Tudo parece pintado de cinza
E o caminho continua só
E a Noite vai passando sozinha
Quem caminhou...
Já não mais caminha
E assim a Noite passa
Sem ninguém no seu caminho
Nem prostitutas na velha esquina
Nem chulos em gritaria
Agora...sim
Já é dia...
talvez logo...
A Noite não seja tão fria
Por agora...Já toda a gente caminha
Até eu caminho !
O que as pessoas não sabem ...
É que a noite ...é sabedoria !
Que o diga , quem na Noite caminha
Eu...por lá já caminhei
Por isso sei !

novembro 11, 2005

Ultimo lote de fotografias

Lote 6.

Até o dia 13 de Novembro, à meia-noite, podem ainda reservar uma foto, escrever o vosso poema e enviá-lo. Bon courage!

Apenas uma foto, por caiacaina (extra-concurso)

Gonçalo de la Serna


Uma espiral de sentimentos desenrola-se em mim.
Tempestade de palavras anónimas, desregradas,
Funcionando como mola, como travão: um sem-fim…
Baralhando minhas emoções e pulsões inventadas.


As tuas palavras ditas, as indizíveis para mim,
Não passam de fragmentos de frases empolgadas
Entre quereres, ódios, raivas e pétalas de rosa carmim…
Que dás, tiras, iludes, brincas em banais jogadas…


Cara sem cara, só olhos, num turbilhão de imagens
Fingindo, iludindo, dando colorido às mensagens
E quem és? O que és? Apenas alguém que amei…


Jogador sem trunfos. Ilusionista de fantasias,
Jogando cartadas de palavras agrestes e frias,
Banalizando a amizade e o amor que te dei….

09.11.05


Blog: Bis Morgen

Noite


Mais uma noite.

Cansada, vergada

Quebrada, estafada.

Perdida, sem rumo.

Uma noite indiferente.

Sem calor nem frio

Nada que cause arrepio

Ou outra emoção.

Nada que valha a pena pensar

Sonhar, esperar

Por uma esperança perdida.

Nada mais do que um escuro.

Silencioso, vazio

Um corpo sem brio abandonado.

É somente mais uma noite

Uma noite que fico só…

66. Reflexões de um louco internado na realidade, por Maria





















(Bertrand_de_Girardier)

da vida secreta dos homens nada sei,
a não ser que as paixões movem montanhas
e que por vezes sai o melhor
das pessoas mais estranhas

do lado negro da lua nada sei
nem sequer se é negro

mas há uma ao fundo do túnel
longe, tão longe quanto a estrela da tarde
onde convergem olhos e almas e sonhos
e por falta de coragem o desejo arde...

é o ponto de fuga onde convergem
os lados doces e negros que cada um encerra
dando vida aos sonhos e pesadelos
que moram mais fundo
do que o outro lado da terra

todas as noites
espero uma revelação qualquer da lua
(ou do túnel)
algumas palavras em morse
quando as nuvens lhe ocultam e devolvem o brilho
ou o arvoredo se contorce

ainda não consegui discernir
se é aliada ou só engodo
para me atrair ao túnel e me extorquir
os sonhos e os pesadelos de que mais gostas

pelo sim pelo não
deixo-me ficar aqui deitado no chão
a segurar a terra com as costas

Estórias do Bicho da Seda

65. Poema para a minha avó, que nasceu muito antes de inventarem a playstation, por Didas

Nesse tempo as ruas andavam cheias de chapéus com pessoas em baixo
E também havia bigodes que moravam nas caras dos homens.
Alguns pareciam hélices,
Outros asas.
Mas não voavam.

Os chapéus das mulheres dormiam muito em cima delas
Porque nunca tinham nada para fazer.
Os dos homens não, porque tinham que saltitar muitas vezes
Para dizer Bom Dia, Boa Tarde e Boa Noite.

Nesse tempo as pessoas ficavam perfiladas
Em frente a uma máquina
De onde saíam depois quietas e cinzentas.

Nesse tempo nasceu a minha avó.
E tiraram-lhe logo um retrato para ela ficar quieta e cinzenta.
Mas ela não ficou.

Johannes Kikorian


Blog: Farinha Amparo

- (a)cor dei

Acordei
vestido na aragem fria
de uma janela mal fechada
e da nesga
por onde esta surgia
havia
um raio de luz filtrada
que morria
na pele macia
de uma ausência calada…

(c) cm - Carlos Silva

blog : Há Mar e-Gente

64. Spectrum, por Carlos

Ernst Kletzmair


Olho para M. e retiro o olhar que poiso em V.
V. inunda o quarto com o olhar que reluz em mim
Onde houvera risos e champagne em copos baços
(gelados)
Há agora este silêncio de aves repousadas na noite
(Com olhos abertos)
A capa de livro aberto enrodilhada na face de V.
Releva as letras góticas,
E está imiscuida com pestanas de V, cujos olhos
(abertos)
Continuam a irradiar a mesma luz com que
(relutante)
Amou M.
O vidro em pedaços polvilha a face e o seio de M.
De um copo antigo de família, agora desprezado
(pulverizado)
A minha mão corre pelo corpo de M e acaricio V.
(com os lábios roxos)
Como se fosse possível continuarmos os três
(mais que doze minutos)

Que fazem aqui este corpos gelados?



Carlos
Blog: Alameda dos Oceanos

63. Musgo Mulher, por mfc

Catherine Hermans (girl in nature)


Tu és humus, fermento,
És sorriso franco, alento,
Deixa-me ver-te... olha para mim!
Carícia de ti, apetecer sem fim,
Odores primitivos são lenitivos...
Sabores lascivos, sentidos vivos,
Em ti, tudo nasce e medra
Crescendo-te como a hera.
Mas diz-me... como te chamas?
Conta-me? A quem amas?
Donde vens? De longe ou perto?
De sul, de norte ou do deserto?
Em ti que brotam as fontes!
Tu que te estendes sobre os montes...
Vem ter comigo, Musgo Mulher.
Dá-me tudo que eu quiser
E que queiras também.
Anda, dança, canta, vem,
Vestido meu o acobertado teu,
Teu corpo tapando o meu.
Solta-me deste ser bisonho...
E que tudo não seja parte de um sonho!


Manuel (mfc)
Blog: Pé de Meia

novembro 10, 2005

VIZINHA (IN)DISCRETA - pela Sua Vizinha ( Extra concurso)



Ó vizinha venha cá,
Venha ver a Lianor
Aquilo é que é descarada,
Raio da moça, estupor!
Anda com a saia tão curta
Que traz quase o rabo à mostra!
Outro dia já lhe disse
E sabe qual foi a resposta?
“Ó mulher, o que é que quer,
Quem lhe pediu opinião?
O rabo é meu, e depois?!
Cale-se lá, pois então!”
Deu-me cá umas ganas
Que lhe ia indo às ventas!
Estas raparigas d’agora
São mesmo umas peneirentas…
Olhe o homem, olhe lá…
Até está parvo a olhar!
Quem lhe desse uma lambada
E o mandasse trabalhar!
Ela até faz de propósito,
Olhe lá, como rebola
Quem lhe acertasse com uma merda
Bem no centro da carola!
Malvada da rapariga
É mesmo provocadora,
Mas se volta a responder-me
Ainda leva com a vassoura!
E a filha da Etelvina!
É maluca como ela.
Essa, mal entra em casa
Põe-se logo à janela!
Esta daqui do lado
Também pensa que é boa…
Um dia digo-lhe cá uma coisa
Que até lhe cresce a meloa…
A “meloa”, ó senhora!
A meloa é a cabeça
Não comece… não comece…
Veja lá não me aborreça!
Isto é só a gente a falar,
Não é ser má língua não.
Tenho olhos para ver,
Ora essa, pois então…
O marido desta do lado
Beija o chão por onde ela passa.
Coitada, não tem espelhos,
Para ver como está carcaça!
Ó mulher, deixe-me falar,
Não querem ver a chatice!
Ainda vocemecê não viu
O que anda a fazer a Alice!
Essa também está na lista
Para ouvir um responso.
Tenho pena é do marido,
Coitadinho, pobre Afonso…
O que é?! Olhe, abra os olhos
Não ande sempre na lua,
Às vezes até parece
Que não mora cá na rua!
Olhe a Lianor, e olhe lá…,
Olhe lá para o basbaque…
Vou-me embora lá para dentro
Antes que me dê um ataque!

O Escritor Famoso - fora de concurso

Macro e micro

Você não pode observar a olho nu
a cópula dos astros e estrelas.
Nem penetrar na ínfima alma
das bactérias povoando
a ferida com toxina letal.
O macro e o micro
escapam da lente dos olhos
e borram a retina.
E o que você vê –
o resto que à luz se mostra –
se tinge de sombras,
arestas e ilusões tantas
que é mais prudente fechar
o coração pra ver melhor.


Rui Werneck Capristano

Bezerro eléctrico, por rjm, muito fora do concurso

um bezerro eléctico surge-me
no planante sonho de néon de Vegas
sonhos plásticos
(descartáveis)
aguardam-me na mesa
do quarto
da torre
do hotel
alienado artificial
sob artificial luz


yeah, babe, rock on

62. Meu reino de fantasia…Ou talvez não... - Por: A. Bandeira Cardoso

Foto: Heidi Laros (showtime. three boys)


Perdi-me na noite escura
Ouvi, no breu, soluçar,
Soluços de amargura
Entre as sombras do luar.
Toda a floresta gemia
Solidária com a dor
Raios de lua na noite fria
Raios ténues sem calor
E a dor tudo envolvia
Na luz breve do rumor
Quem chorava eu não via
No luar que se extinguia
Prisioneiro do amor

Eis então que amanheceu
E o choro foi-se extinguindo
E outro lhe sucedeu
Um no outro se confundindo
E queria saber quem chorava
O novo choro, as mesmas penas
Na luz da madrugada
Na luz feita de dor apenas…
Um choro que ía aumentando
Enquanto o outro se extinguia
Um no outro se tocando
Naquela manhã tão fria
Perguntei a um rouxinol
- Rouxinol, quem chora?
Calou-se no despontar do sol.
E, dos choros da aurora,
Ficou apenas um
Que vinha de todo o lado
Sem ser de lugar algum,
Aquele choro magoado!

E durante o dia chorou
E o céu chorou com ele,
Lágrimas do azul brotou
Todo o azul daquele.
O céu ficou cinzento
E todo o cinzento do mar
Ficou azul no momento
Que o céu parou de chorar.
Perguntei ao mar e ao céu
De quem era a agonia
O céu não respondeu
O mar secou uma onda fria.
Uma gaivota que passou
Ao ouvir o soluçar
Com ele também chorou
Afogando-se no mar.


O horizonte ficou vermelho
Assumiu cores de paixão
O choro ficou em espelho
Pois outro surgia, então
E no momento do ocaso,
Quando o dia perde o calor,
Ouviu-se sem algum atraso
Lancinante grito de dor.
E parado o tempo num segundo
Novo grito a ecoar,
Desabando sobre o mundo
O primeiro soluçar.
Uma estrela despontou
E ao ouvir tal dor gemida
Com ela também chorou
E apagou-se de seguida…

Outras estrelas foram surgindo
Chorando como a primeira
Na escuridão se extinguindo,
Apagando a noite inteira…
Só um mocho parecia não chorar
Ante o choro da eternidade
Que não é um, mas um par
De choros duma só saudade
Perguntei-lhe quem chorava
Por todas as noites frias
E quem o choro perpetrava
Nas horas de todos os dias.
Fez um ar inteligente
Assumiu-se narrador
Duma história comovente
Nascida de um grande amor

Quem chora é a Lua,
Espalhando em todo o luar,
Uma dor que não é só sua
Pela terra, céu e mar
Todo o soluçar é de amor,
Espraiando, em lençol,
Lágrimas num luar de dor,
Lágrimas da lua e do sol.
Vivem um amor tão forte,
Em constante despedida
E nem o tempo nem a morte
Apagam a paixão erguida.
Fieis a um amor ausente
Só em dois momentos sem atraso
Se beijam de repente
Ao amanhecer e no ocaso.
Depois gritam a partida
Chorando toda a dor
Lágrimas de toda a vida
Lágrimas dum só amor


Finalmente eu entendia
O choro que escutei
E ao nascer o novo dia
Olhei o céu e chorei…

- Espera mais um pouco,
Que a história não acabou
Nem a dor tampouco,
Neste amor se esgotou…
O choro que tens ouvido…
Nunca o ouviras antes....
Está mais forte e mais sentido,
Eles não choram como amantes.
- Porque choram tão forte , então?
Tal choro… que eu nunca ouvia?
Se não é deles toda a dor…
Porque choram tanta agonia?
-Calma, disse fitando o luar,
Deixando uma lágrima cair,
Começando a soluçar.
-Não te posso omitir…
Eles choram por uma dor igual,
Mas que ainda é maior,
Alguém que, vivo, morre afinal
Por não acreditar no amor.
Baixei o olhar no chão..
(Nem sei o que senti…!!!)
Quando o mocho disse, então
- Eles estão a chorar por ti.


DE PROFUNDIS, PENA DE VIDA

61. Meninas, por Rui Werneck de Capistrano

Sarah Afonso (meninas)


ouçam um bom conselho
saiam já do quadro
meninas
passem pra dentro da vida
que quadro é arte
e arte não dá futuro

melhor amar e procriar
que a grande arte
é criar mais vida

(saia já do poema
que poema é arte
e arte...)

Rui Werneck de Capistrano

60. Mãos que não esquecem, por Ivo Jeremias

W. Ropp

Mãos que se entrelaçam
Suportam,carregam,
Que não se cansam.
No tempo avançam,
Escurecem e envelhecem.
Que se enrugam,
Endurecem,
E enriquecem.

Mas não esquecem...

Do toque da rosa
E da dor do espinho.
E com carinho,
Curam, Abraçam,
Amam, enternecem,

Mas não esquecem...

Da textura da cortiça,
Do dedilhado do Fado,
Do peso do cajado,
Da pele roliça
Do seu amado.

Mãos que tremem,
Com rugas escrevem
A hitória vivida
Passada e escondida.

Nas palmas das mãos,
delineada,
de forma descriminada...
para ser encontrada,
lembrada e recordada
de forma apaixonada.

Mãos que não esquecem,

Da escolha tomada...
Da meta traçada...
Falhada, alcançada ou superada...

Mãos que não esquecem,

As horas trabalhadas...
As lutas travadas...
As batalhas perdidas...
Outras Vencidas,
As glórias recebidas...

que nas mãos
não são esquecidas...


By:Ivo Jeremias- Olho Bem Aberto

59. ROMA ou o AMOR ao contrário, por Vítor

mrf (Roma)















Qual a razão desse guia que carregas nas mãos?
De que serve o conhecimento quando o Amor é-nos impossível?
O tempo gastou o que havia para sentir e agora não sei o que é o Amor; vou desconhecendo-o por estes dias em ruas anoitecidas de vazio, plantando-me cativo na escuridão do teu vulto, como se fosse um soldado Romano à porta de um circo onde passeias impávida.
Às vezes pergunto-te o que é o Amor, e a resposta coze-se à tua boca nessa estranha forma de sentir, nessa nudez demorada que responde por silêncios amargos e distantes, nesse olhar de turista que vestes e que me remete para um nativo ausente de uma qualquer fotografia a que não quero pertencer.
Sabes, tudo poderia ter sido diferente;
eu poderia ter sido esse mapa que transportas contigo;
poderia ter sentido o que é o Amor!


Vítor.
Blog: Conversas Escritas

novembro 09, 2005

58.Variações no Verão, por Palavras em Linha

MRF

Éramos vizinhos do vento e as aves vinham em visita enquanto conversávamos sob a visão do céu. Andorinhas vestidas de viúva vinham espreitar-nos por detrás das folhas e o verde do meu vestido, aconchegado nos trevos, desafiava-lhes a vontade.
Os teus olhos sorviam os raios de sol chamando-lhes vida. E eu ouvia versos voando da tua boca. Chamavas-me Diva.

Palavras em Linha

Vem! por Paulo César Nunes - extra-concurso

Vem!
Senhor Jesus!
gemes-me tu
meu Deus!
Oh Deus meu!
Vem!
É o nosso Apocalipse!

e eu venho directo
sem esboço nem rascunho
no fundo das tuas entranhas que se Vêm!

Vem!
Senhora Minha!
Gemo-te eu!
meu Deus!
Vem!

57. Nu?, por Joaninha

Spencer Tunick


Na cama, em casa, na rua,
Despido de fantasias
Sois Homem, verdade nua e crua!

Crê Homem, que a tua fama
Tão pouco ficará abalada
Mesmo que não uses a cama,
Para seres pessoa falada…

Na cama, fazes amor
Que apenas pode ser desejo,
Ou puro acto de favor,
Ou puro acto de manejo…

Em casa, controlador,
Podes acabar indesejado:
Mero acto de terror,
Se não te fizeres amado.

Se não souberes ser amado,
Ninguém te fará feliz
Serás sempre um ser acabado,
Como o ditado o diz…

Na rua, qual estátua, toda nua,
Não passas de um desconhecido
Mesmo que muito presumido,
Digas ao mundo que sou tua…

O ID tem destas coisas estranhas,
Que sem mecanismos de defesa,
Causa fervor nas entranhas,
Mesmo a quem se veste de esperteza…

Se estás defendendo tua atracção
E pretendes ser respeitado,
Mesmo sem roupa, a fazer revolução,
Apenas serás sempre rejeitado…

Blog: Meinemliebe

56. Soneto Imperfeito, por João Francisco

David Hurn (Cardiff)


A fábrica exala um perfume de morte,
silencioso e frio entra no corpo e invade a alma
sofrida e sentida pelas horas seguidas sujeitas
à realidade de existir num mundo cinzento.

A fome, companhia diária, já aperta,
silenciosa e fria enfraquece o corpo e entristece a alma
cansada e dorida pelas horas seguidas e sofridas
sem um alimento colorido num mundo cinzento.

É intervalo. Os olhos brilham. A esperança renasce.
A bola salta. Os sapatos chuteiras. O cinzento verde.
A fábrica bancada. As mochilas balizas. As chaminés público.

O jogo começa. O mundo pára. A bola salta.
O cruzamento milimétrico. O cabeceamento perfeito.
O Golo!!! A Alegria!!! O Júbilo!!! a fome saciada. O ar puro.


João Francisco



Onde?, por N.R. (Extra-concurso)




Onde o destino me encontra
Nas teias do passado,
Onde os caminhos percorridos
Se entrelaçam no presente.

Onde tu vives e sonhas
E prendes-me a ti,
Onde eu te chamo
E tu não me respondes.

Onde uma brisa te beija
E me traz um pouco de ti,
Onde o reflexo da luz
Não atinge a sombra da alma.

Onde o sentimento de não te ter
Aperta até à exaustão,
Onde a mão da solidão
Te abraça e consome.

Onde eu existo e tu faltas,
Como um mar que secou
Onde o sol queima as areias
De um sonho trazido pelo vento...

N.R.

55. Desespero, por Finurias

Tine Drefahl


Onde vais tu , mulher sem rosto.
Pela gélida noite sem Luar ?
Não responde a mulher,
Absorta fica a cismar !
Mas o vento volta a perguntar
Para onde vais ?
Estás perdida, ou foges de algo ?
Nessa correria que não faz sentido,
Andas ás voltas sem destino
E ela nada !
Lá caminha...cansada
Com o rosto preso na calçada
Assustada...continua sem deixar
Que lhe olhem o rosto,
Como se uma maldição,
Lhe tivesse caído em cima.
E o vento sempre a perguntar
Por favor deixa-me ajudar ?
Posso-te levar onde quiseres,
Pois conheço todos os caminhos
E todas as gentes que por aqui passam !
Subirei Montanhas se assim te ajudar
Mas responde-me antes que anoiteça,
Basta um riso, um olhar, uma lágrima,
Eu sentirei isso no Ar !
Vou pedir à Lua e ao Mar
Que me venham ajudar,
Seremos teus guias, na tua busca
Não tarda a neve...
Mais tarde, virá o Sol...
O Outono...
E todas as outras estações,
Te iremos cercar num silêncio respeitoso !
Chega !!!
Chega !!!
Nenhum de vós , ao meu enterro
estou farta da minha alma doente
não durarei um mês sequer !
mas, mal vos vejo , pulo alegre e contente
como se infância tivesse !
Só vos quero ouvir dizer : Boa Viagem !
Coitado de quem fica...
Adeus ! Adeus !


54. Corpo, por Finurias


Theo Jennissen


Só com o olhar te despi
Só com um dedo te senti
Nesse teu corpo exausto
Essa falsa beleza, em que eu não vi
mais, do que os teus medos e vícios !
Possesso agora fico, desse teu corpo sofrido,
És o desencanto
És o desespero
Abres as pernas
Gemes de gozo...
Gritas de raiva
Umas vezes violada
Outras...talvez amada
És tudo...e nada !
Puta...
Drogada...
Mas ainda és Mulher !
Vida malvada a tua
pobre de ti desgraçada,
Dói-te o vazio
Dói-te a miséria
Vagueias nas sombras...perdida
Em ruelas, becos , esquinas
Te vendes por um punhado de nada
Desses cabrões que te tomam
Como se fosses apenas um corpo...
mais nada !
Despejam o ódio em ti, crucificam-te em vida
Já nada sentes...falo por ti !
Ah ! Escumalha danada !
E agora teu corpo jaz,
numa cama de lama...
Puta de vida malvada !

Finúrias

53. Hombre, por caiacaina

Spencer Tunick


La hora blanca de la alborada;
En una cualquier ciudad,
el hombre empezó su revolución.
El hombre quiere su verdad.
¿Que buscas con eso? amor?
¿Así haces revolución?
¿Que haces desnudado en la Plaza?
¿Decir que tus derechos tienen valor?…
No eres necesario sublevación…
No necesito que me convenzas...
Puedes tener un otro amor…

07.11.05



Caiacaina
Blog: Bis Morgen

novembro 08, 2005

52. Metapoema óbvio, por Prólogo

Carstanova (mummy)

Ontem à tarde era para ser verdade o teu rosto.

Estava escrito assim no desejo e eu acreditei.

Houve ainda um gesto intenso, um impulso, o susto de um momento.

Ligeiro tom da inocência que desarticula o tempo.


Não é justo que haja o óbvio num poema.

E ainda menos a evidência.

Há-de haver emoção, ambiguidade, ironia e desdém.

Mas não há-de ser óbvio nem evidente.


Sabias então mais do que dizias.

Ou sabias mas não sabias que sabias.

Caía do teu hábito a ilusão sintomática do não ser.

E o olhar estava ausente como o fogo.


Num poema uma lua nunca é a lua.

O tigre é sempre outra coisa que não um tigre.

O que se mostra é o que se quer ocultar.

O que se ouve é apenas o desvio da voz.


Atrás do gesto e da franqueza

Da regular imensidão das possibilidades

Deixaste uma sombra, uma dor e um voo.

Uma mentira deformada pela vontade.


O poema nasce no interior das meninges

Espremidas pela angústia, pelo medo, pela emoção.

Nasce contra tudo e contra todos

À espera de conseguir dizer o indizível.


Não cheguei a saber o que querias.

Tal como não percebi o meu desejo.

O estalo inglório dos meus sentidos

Perdeu-se em vagarosos movimentos de recuo.


Cada verso que se expõe à voz do mundo

Perde o dono, a identidade, o ser e a intenção.

Passa a ser uma coisa nova em cada boca.

E se assim não for não é bem, nem é verdade.


Não sei que vi em ti que me domou.

E por isso me fiz macabro tigre da indiferença.

Subi a mais alta plataforma das certezas.

À procura de uma trágica lua, solta e inundada.


Envolto em panos que revelam escondendo,

Oculto recheado de evidências,

Mentira quase certa na intenção,

Prazo acabado do saber e do sonho,

Momento interminável de prazer doloroso,

Sombra luminosa de destino ocasional,

Tudo é óbvio menos tu.


Prólogo

51. A Luciah, por Ivo Cação

Sokolsky (spead)

Há um estranho pacto entre as bruxas e as coincidências.

Vêm ambas de um lado de lá do sonho.

E ambas existem mesmo sem acreditar.


Paris é uma festa.

Paris já está a arder.

Paris nunca se acaba.


Luciah encontrou-me cedo na infância, e olhei para ela como se fosse verdadeira.

Ela tinha todas as formas e mais as formas de mulher.

Parecia sempre ser uma coisa e era outra.

E mesmo essa coisa que ela era, não era ela mas outra coisa.


Luciah construía mundos e com isso construiu os meus mundos.

Dizia que Kafka era igual a Kapa, mesmo que fossem diferentes.

Que Cervantes era igual a Quixote e Sancho, ao mesmo tempo.

Falava de deuses e humanos em pé de igualdade e criava falsos deuses assim como falsos humanos que eram igualmente verdadeiros.


Luciah traz-me todos os dias notícias frescas num prato aquecido com o fogo do inferno.

Traz-me anjos, santos e bem-aventurados aventureiros.

Exemplos do que se pode ser e do que se não é.

Sonhos que enchem o mundo como o ar que se respira.


Porque gosto então de Luciah se sei que é mentirosa?

Porque não passo eu sem as suas nocturnas fábulas rotineiras?

Pior que isso: porque vou, como um dependente, à procura das falsidades de Luciah?

Talvez por ser ela que faz de mim humano.


É Luciah que me traz à cabeceira a ligeira hipótese de considerar o viver como coisa aceitável.

É ela que flutua sobre a estrutural fantasia dos textos.

É Luciah o lado de cá de eu não me sentir um mero DNA reprodutível.


Cada vez que encontro Luciah, e em que ela a seu bel-prazer me faz, com as suas artes, oscilar violentamente entre o amor e o ódio, entre a paixão e a viagem, entre o medo e a sofreguidão, entre o poder e o vácuo, entre a música e o ardor do mérito, percebo que Deus, na sua superior sabedoria, criou Luciah para dar sentido a uma obra eternamente adiada.


Luciah, campeã da ironia, há-de morrer sem revelar os seus segredos!



Ivo Cação
Blog: Zumbido


50. Lianor, por Picolita

Wallis "Dress to Kill" ad campaign




Decidida vai para o emprego
Lianor pela estrada
Vai formosa e mui cuidada.
Leva na mão a maleta
E caminha, direitinha.
Ó Lianor, se eu fosse a ti
Baixava mais a saínha…
Bem sei que tens boa perna
E o que é bom é para mostrar…
Mas mulher, tu tem tino…
Deixa o homem trabalhar!
Não te reboles tanto
Nem sejas tão presunçosa,
Não precisas dar nas vistas,
Já sabemos que és formosa!
Não sejas provocadora,
Troca lá de sapatinhos
Vê se andas como gente
Em vez de andares aos saltinhos!
Lianor, tu tem vergonha,
O homem não pára de olhar…
Olha, depois não te queixes
Que eu não estou p’ra te aturar!
O rapaz que está a ler,
Completamente alheado,
Com a distracção do outro
Ainda acaba atropelado!
Ó Lianor, olha tu poupa-me
Que eu não te quero dizer
Aquilo que penso de ti
Para não me aborrecer!
Amanhã tu vê se vens
Vestidinha de outro jeito.
Pensa bem no que te digo,
Vê se te dás ao respeito!

Céus suspensos, por Fausta Paixão (sem versejar e extra-concurso)

George Portz


Estavas nos meus braços
Com a ternura de quem escreve o amor pelas colinas
E eu ceguei no chão
Para sentir o desdobrar do teu desejo
Falando-me em silêncio;
Cruzaste as mãos nos meus cabelos
Quando te afaguei a pele e te mostrei paisagens
Suspensas de um céu subitamente pousado nos meus olhos;
Depois colei-me a ti.
Disseste que as marés se revoltaram na carne das minhas pálpebras.
Só me lembro de ter pedido que ficasses para sempre
Nas palavras do meu gesto.
Não quero que este poema tenha fim.

F.P. do Não compreendo os Homens

Poema de Prazer, por Fausta Paixão (extra-concurso)

A ideia era, em respeito a estas pessoas anónimas que estão na imagem, fazer poemas e poemas e poemas, celebrando o Amor. Mas tudo extra concurso, que lá já está poesia que chegue.


George Portz

Gosto de te sentir quando amanhece
Teu corpo no meu corpo, docemente
Desfrutemos amor este presente
Esta doce ventura que enternece.

Assim pousado em mim, teu corpo oferece
O instante da loucura permanente
Colada a nossa pele tão ardente
Seremos tu e eu, bendita prece.

Mantém as tuas mãos junto de mim
Que eu quero o teu carinho enaltecer
Não digam que é pecado amar assim

Depois de te beijar, de te morder
É louca a sensação de não ter fim
E é longo o teu gemido e o meu prazer.

49. Hoje e Amanhã, por A sua Vizinha

Thomas Schmidt


Hoje
Eu queria pegar em mim
E deitar-me fora…


Queria tecer com meus nervos
Uma rede para descansar.
Queria ser barco
Ao sabor das ondas a vogar…
Ah, deixar correr o tempo
Sem disso me aperceber!...
Esquecer-me de mim…
Serenamente adormecer…

Hoje
Eu queria pegar em mim
E deitar-me fora…

Amanhã
Eu queria nascer outra vez…
Uma alma nova, um novo ser!
Algemas quebradas
Ressurgir do nada.
Ah, pudesse minha vida ser
Em cada dia que passa
Uma constante alvorada!


48. Vertigem de baixuras, por Francisco del Mundo

Jan Albert Kroeze


Vertigem de subida,
bem mais incapacitante,
que a descida
insane e delirante.

Olho o azul escondido,
descubro meu futuro,
meu único sentido,
é a subida no escuro.

Vivemos a mediocridade,
parca de ambição e coragem,
sabendo que a vida, na verdade,
é um rio sem margem.

Trilharei o meu caminho
sem medo subirei
e devagar, devagarinho
a minha vida viverei...


Francisco del Mundo

47. Prazer, por VCRC

Keith Nicolson


Desejo áspero que embrulhas os meus olhos
e corres por entre desejo e prazer,
cerras nos punhos da vida eterna
e vestes de alma quem tentas satisfazer.
Imagino nos lençois da longa noite
olhares que se cruzam com um pedido,
almas necessitadas que se entregam
e triunfam no final com um gemido.

A ti te desejo oh inferno vadio
que enfeitiçaste o meu desejo carnal,
cada desejo é um abismo claro, no qual me enfio
e em cada tremor um erro criado e vital.
Imaginação onde me levas e pensamento onde vais?
Liquido que me brota das veias sem mais estancar,
Sentido na boca como o calor dos campos
e no coração com imagem de sangue a fervilhar..

Tu que me tentas, me provocas e constrois
Tu que me massacras no pensamento volante.
Começas quando tudo um dia acaba e
acreditas no sentir como algo encorajante.

Sai desejo que me corrois, que me atrais,
Deixa-me só com os punhos e lençois do meu pesar...
inferno tranquilo que mostras à carne como ser
e às ideias a forma de recomeçar...


VCRC

46. A consciência, a vida, o amor, eu e tu, por VCRC

mrf (maré)


(consciência.... consciência....)
Desculpa o amor por ele ser assim tão cruel, tão bonito..
Perdoa-Lhe por trazer sorrisos e odiar tantas vezes...
Pega-Lhe na mão e encontra nele as forças para não chorares,
Aconselha-te não com as lágrimas mas com o sorriso e com as preces.

(tu.. a ti e a mim....)
Hoje escorregaram-me pelas mãos os sonhos.. ...
Virei as costas e só de um lado continuou a crescer...
As esperanças que ontem me dominavam são hoje
As vísceras podres de quem não quer respirar e viver...

(a vida.. hoje é simplesmente a vida...)
A areia que peguei era fina.. fina demais em acreditar..
Enterro os pés na areia e nela faço por ficar..
O que queria esquecer faz o sol questão de me fazer lembrar..
Tudo numa vida singela, audaz, que em tudo vou querer enterrar..
O mar que me acalma é hoje travesso e arisco..
Rebanho de revolta na curva intensa de um logo risco..

A Luz galgou a ponte e dela nada restou..
Até a embarcação de vidro que ali jazia, este mar fez questão de tentar levar
e levou...

Que sentimentos restam depois de uma maré alta?
Pergunto ao vento que desconfiado me olha de lado..
A resposta é um silêncio que me faz questionar sobre o que existe...
Que existiu... e sobre o que estava destinado..

(O fim... o amanhã e o futuro...)
Rogo pragas a quem de direito não o devo fazer...
Resta-me passear na praia e enterrar na areia os meus pensamentos
Nada mudará no amanhã e do futuro nada soube nada saberei..
Ontem sorriria à vida e hoje nada aprendo com o nada que sei..
A linha do horizonte que à minha frente gela,
conta às conchas acerca do amanhã que não está seguro..
Nada adivinha nos passos que dou e faz-me pegar na areia, soprar e pedir ao mar uma vontade para o meu futuro..

(o amor.....)
Passaste por tanto e esse tanto parece para outros tão vazio
Amanhã sorrirás com o que virá não com que foi sombrio..
Desculpa-me por te tocar na ferida e adormecer os teus sonhos de menina
Aprende com o conselho do mar e aceita o ser daquilo que a ti se destina! ...

VCRC